13 de jun. de 2006

Luz mais rara



(...)Meus olhos vêem melhor
se os vou fechando.
Viram coisas de dia
e foi em vão,
mas quando durmo,
em sonhos te fitando,
são escura luz
que luz na escuridão.

Tu cuja sombra
faz a sombra clara,
como em forma
de sombras assombravas
ledo o claro dia
em luz mais rara,
se em sombra
a olhos sem visão brilhavas!

Que bênção a meus olhos fora feita
vendo-te à viva luz do dia bem,
se tua sombra em trevas imperfeita
a olhos sem visão no sono vem!.

Vejo os dias quais noites não te vendo,
e as noites dias claros sonhos tendo.(...)

William Shakespeare - Soneto 43

5 de jun. de 2006

vento

Há dias em que desejo ser vento tempestade quebrar as velas todas do meu barco quebrar todas as regras fugir refugiar-me num abraço terno deixar abertas todas as janelas e viajar de olhos bem fechados até que cansada num porto distante desperte brisa suave...

4 de jun. de 2006

Saudades Futuras



Dissimulada
imagem
que passa

Inesperada
dor

Reflexo
de um pedaço
de mim
que chegou
e partiu

Ainda que jamais
tenha batido
à minha porta...

3 de jun. de 2006

Ah! Por um beijo teu




Brisa leve
desliza
pela face

Desce
em busca
da doce frescura
dos teu beijos

Ardentes
na procura
as ondas
chocam-se
uma a uma
numa explosão
de paixão

Sedentos
dançam
pelo ar
meus lábios
procurando os teus...

2 de jun. de 2006

Amanhecer contigo



Dormi contigo toda a noite
junto ao mar, na ilha.
Eras doce e selvagem entre o prazer e o sono,
entre o fogo e a água.

Os nossos sonos uniram-se
talvez muito tarde
no alto ou no fundo,
em cima como ramos que um mesmo vento agita,
em baixo como vermelhas raízes que se tocam.
O teu sono separou-se
talvez do meu
e andava à minha procura
pelo mar escuro
como dantes,
quando ainda não existias,
quando sem te avistar
naveguei a teu lado
e os teus olhos buscavam
o que agora
– pão, vinho, amor e cólera –
te dou às mãos cheias,
porque tu és a taça
que esperava os dons da minha vida.

Dormi contigo
toda a noite enquanto
a terra escura gira
com os vivos e os mortos,
e ao acordar de repente
no meio da sombra
o meu braço cingia a tua cintura.
Nem a noite nem o sono
puderam separar-nos.

Dormi contigo
e, ao acordar, tua boca,
saída do teu sono,
trouxe-me o sabor da terra,
da água do mar, das algas,
do âmago da tua vida,
e recebi teu beijo,
molhado pela aurora,
como se me viesse
do mar que nos cerca.

Pablo Neruda