29 de abr. de 2007

Perdi-me de ti


Espelho, és a terra onde as raízes
rebentam de mistérios.
Repetes as perguntas que te faço, porquê?
Repetes os olhares sem fim das coisas paradas.
Repetes o meu olhar.

És um silêncio a morrer, a noite,
a verdade mais triste .

Espelho
quis conhecer-te
e perdi-me de ti.


José Luís Peixoto in "A criança em ruínas"

22 de abr. de 2007


Ficávamos
no quarto
onde por vezes
o mar vinha
irromper

É sem dúvida
em dias
de maior
paixão
que pelo
coração
se chega
à pele


Luis Miguel Nava

16 de abr. de 2007

Para sempre...



"Iluminar
para sempre

Iluminar tudo

Iluminar
por toda
a eternidade

Iluminar e só

Este é o meu lema
E o do sol"


Vladimir Maiakovski

15 de abr. de 2007

Fruto proibido


Teu gosto

perpetua

toda a noite

no dia seguinte

Quando amo-

te inteiro

no mais requintado

sabor do desejo

da tua pele

vertente suculenta

doce fruto proibido

verde

intacto

inteiro


14 de abr. de 2007



O meu quarto

é mudo

e não tem

adornos

Apenas um

lençol branco

no chão e

Chopin rodopiando

entre as paredes

do quarto

nuas (as duas)



11 de abr. de 2007

Vem aos meus sonhos


Vem aos meus sonhos,

Faz em mim a tua casa.

Planta, em frente, a cerejeira dos

pássaros brancos,

deixa que eles pousem nos ramos e cantem

eternamente,

deixa que nas asas de luz eu leia o meu

nome,

antes de os relâmpagos ascenderem os prados.

Vem aos meus sonhos,

vê os labirintos por onde me perco,

vê os meus países do mar,

vê, em cada barco que parte do meu coração,

as viagens que não fiz

os amores que não tive,

a lua cruel da minha solidão.

(José Agostinho Baptista)

7 de abr. de 2007


Deslizou no meu rosto
O sal docíssimo de uma lágrima
derramando languidamente
brilho a rosa escarlate

Lábios trêmulos
na nudez da tua voz
adivinhando meu corpo
sílaba por sílaba
húmida pele marinha
pontuando suavidade de brisa

Na delicada ausência
renasce a febre
no céu da minha boca
que arde em seda e chama

Faz-se o milagre
e o meu céu
da boca
estremece
o teu sangue

6 de abr. de 2007

Noite


Sozinha estou

entre paredes

brancas

Pela janela

azul

entrou a noite

Com seu

rosto

altíssimo

de estrelas.



Sophia de Mello Breyner Andresen

4 de abr. de 2007

Eu te amo


Ah, se já perdemos a noção da hora.
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Ah, se ao te conhecer
Dei pra sonhar, fiz tantos desvarios


Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas


Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu


Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair


Não, acho que estás te fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir.



Tom Jobim / Chico Buarque

2 de abr. de 2007


(...)Frémito
do meu corpo
a procurar-te,
Febre
das minhas mãos
na tua pele
Que cheira a âmbar,
a baunilha e a mel,
Doido anseio
dos meus braços
a abraçar-te
Olhos buscando
os teus
por toda a parte (...)
Florbela Espanca