29 de jul. de 2007

O poeta não tem fim...O amor, sim


Eu deixarei que morra em mim
o desejo de amar os teus olhos
(que são doces)
Porque nada te poderei dar senão
a mágoa de me veres
(eternamente exausto)
No entanto a tua presença
é qualquer coisa como a luz e a vida
E eu sinto que em meu gesto existe
o teu gesto
e em minha voz
(a tua voz).
Não te quero ter
porque em meu ser tudo estaria terminado.
Quero só que surjas em mim
como a fé nos desesperados
Para que eu possa levar uma gota de orvalho
nesta terra amaldiçoada
Que ficou sobre a minha carne
como um nódoa do passado.
Eu deixarei...
tu irás e encostarás a tua face em outra face
Teus dedos enlaçarão outros
e tu desabrocharás para a madrugada
Mas tu não saberás
que quem te colheu fui eu,
(porque eu fui o grande íntimo da noite)
Porque eu encostei minha face na face da noite
e ouvi a tua fala amorosa
Porque meus dedos enlaçaram
os dedos da névoa suspensos
(no espaço)
E eu trouxe até mim
a misteriosa essência do teu abandono
(desordenado).
Eu ficarei só como os veleiros
nos portos silenciosos.
Mas eu te possuirei mais que ninguém
porque poderei partir
E todas as lamentações
do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
Serão a tua voz presente,
a tua voz ausente,
a tua voz serenizada.


Vinicius de Moraes

Um comentário:

Anônimo disse...

A viagem não sabe parar pelo tempo fora quer na forma de poeta quer na essência da poesia...
A viagem não termina nunca...