7 de jul. de 2008

"O sangue das vogais"



A palavra é uma estátua submersa,
um leopardo que estremece em escuros bosques,
uma anémona sobre uma cabeleira.
Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.

Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada.
Rápida é a boca que apenas aflora
os raios de uma outra luz.

Toco-lhe os subtis tornozelos,
os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida
numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical
o sangue das vogais.

(António Ramos Rosa)

4 comentários:

Three Love´s disse...

lindo o poema; parabéns pela escolha.

Aliás, lindo tudo aqui;

fiquei encantado com a beleza extraordinária desse lugar.

b.e.i.j.o.s.

Maré Viva disse...

Um entrelaçar de palavras maravilhoso, premeio a tua sensibilidade na escolha e o imagem? Absolutamente a condizer!
Estou aguardando a tua chegada...
Beijos do coração.

Nilson Barcelli disse...

Gosto da poesia do António Ramos Rosa.
E este poema não foge à regra. Obrigado pela partilha.

A foto é perfeita.

Beijinhos.

O Profeta disse...

E este Sol impõe a claridade
Pôs no celeste a Lua a bocejar
Perdi a conta das estrelas no céu
Ergui-me em bicos para as contar


Voa comigo sobre as emoções

Boa semana


Mágico beijo