28 de ago. de 2008

Teu nome mais secreto


Só eu sei teu nome mais secreto
Só eu penetro em tua noite escura
Cavo e extraio estrelas nuas
De tuas constelações cruas

Só meu sangue sabe tua seiva e senha
E irriga as margens cegas
De tuas elétricas ribeiras,
Sendas de tuas grutas ignotas

Não sei, não sei mais nada.
Só sei que canto de sede dos teus lábios
Não sei, não sei mais nada.


Adriana Calcanhotto/Waly Salomão

21 de ago. de 2008

Amado



Como pode ser gostar de alguém
E esse tal alguém não ser seu
Fico desejando nós gastando o mar
Pôr-do-sol, postal, mais ninguém

Peço tanto a Deus
Para esquecer
Mas só de pedir me lembro
Minha linda flor
Meu jasmim será
Meus melhores beijos serão seus

Sinto que você é ligado a mim
Sempre que estou indo, volto atrás
Estou entregue a ponto de estar sempre só
Esperando um sim ou nunca mais

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer

Sinto absoluto o dom de existir,
Não há solidão, nem pena
Nessa doação, milagres do amor
Sinto uma extensão divina

É tanta graça lá fora passa
O tempo sem você
Mas pode sim
Ser sim amado e tudo acontecer
Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você

Vanessa Da Mata

20 de ago. de 2008

Avesso



Deponho
suponho e
descrevo a
pulso
subindo
pela fímbria
do despido
porque nada
é verdade
se eu invento
o avesso daquilo
que é vestido...

Maria Teresa Horta

16 de ago. de 2008

Veludo


"...Num ímpeto de seiva os arvoredos fartos,
Numa opulenta fúria as novidades todas,
Como uma universal celebração de bodas,
Amaram-se!..."

(Cesário Verde)



Desce mansamente
do meu telhado o entardecer
misterioso e belo felino
desce sem pressa
pressinto sua chegada
luz da lua refletida
em seus olhos
enigma
pantera negra
que fascina
embriaga
entrego-me as carícias
de suas garras e ao veludo
do seu corpo Junto ao meu
sussurros
sons de flautas luminosas
na noite escura...

13 de ago. de 2008



É quando a chuva cai,
é quando olhado devagar
que brilha o corpo.
Para dizê-lo a boca
é muito pouco,
era preciso que também
as mãos vissem esse brilho,
dele fizessem
não só a música,
mas a casa.
Todas as palavras
falam desse lume,
sabem à pele
dessa luz molhada.

(Eugênio de Andrade)

11 de ago. de 2008



Há perguntas a que só nós mesmos
podemos responder
E não existem respostas
certas ou erradas
Apenas respostas

Sabemos que assim é
quando ficamos calados
As perguntas à espera
de respostas

E nós à espera
de palavras que digam
o que não conseguimos dizer

(Luís Ene)

Por que eu sei
que nas tuas palavras
desinteressadas
fervilham chamas
de desejo
a tua boca não diz
o que eu sinto no teu silêncio
no som nervoso do teu sorriso
e quando surge um pequeno silêncio
nós dois sabemos
o que na verdade gostaríamos de dizer
desejo-te
amo-te
quero-te para sempre
tu sabes