30 de mai. de 2010

A Espiã














Conheço o som do medo e o cheiro da morte se aproximando
devastadora e fria.


O carro que nos seguia a distância está cada vez mais perto,
estou sentada no banco de trás e ao meu lado meus dois irmãos
olham incrédulos para o que está prestes a acontecer, no volante
meu pai tenta manter a mesma velocidade. Minha mãe nada fala.
Não vê o carro se aproximando. O carro que nos seguia acelerou
absurdamente e o choque inevitável aconteceu.

Primeiro o som abafado e alto, tontura e dor, tudo se moveu
muito rápido, estilhaços de vidro, sangue, gritos e a sensação
de abandono e solidão novamente tomou conta de mim.

O silêncio durou pouco tempo, logo percebi que o pior ainda
estava para acontecer, com o choque nosso carro foi jogado
para o meio da rodovia, como eu estava na janela abri a porta
e saí do carro me arrastando, o corpo coberto de sangue
escorria pela testa manchando meu vestido branco de domingo.
Consegui chegar á beira da rodovia, senti uma tontura, tudo
rodando a minha volta.

Escuridão.

*
Faço quatro vezes por dia o mesmo caminho para ir ao
trabalho “um” que é apenas um disfarce para meu trabalho
“dois”. Vivo sozinha num pequeno apartamento, meus
companheiros são os livros e a música.

Mesmo antes do acidente em que perdi meus pais e irmãos
já trabalhava como informante para a polícia secreta.
Não achei que seria um grande risco até o dia do acidente.
Para manter os meus chefes informados tive que me
aproximar de um homem que é o chefe da organização
criminosa que estamos investigando.

O que eu não esperava era que ele se aproximasse de
mim por vontade própria.

Numa manhã de Dezembro sigo a pé em direção ao
trabalho quando ele passa por mim de carro depois
do almoço e na volta para casa. Ele passa por mim
e apenas olha. Um dia ele parou o carro branco
impedindo minha passagem.  Entregou-me um cd e disse:

-Eu estava a sua espera a minha vida inteira.
Entrou no carro e foi embora.

Fiquei surpresa e desconfiada.
Fui para casa ouvir o que ele gravou no CD, eram músicas
lindas, lindas e tristes, palavras que ele pensou em me dizer
e que estavam ali nas letras das músicas.

Os meses estão passando e ele continua a me seguir de longe.
Eu sinto quando ele está para chegar e o pior:
Eu sinto falta quando ele não passa por mim.

Descobri o restaurante que ele freqüenta e fui jantar.
Olhamos-nos muitas vezes, algumas pessoas do trabalho “um”
estão comigo e uma vez ou outra nossos olhos não se
encontram, mas logo eu conseguia ver onde ele estava
no meio da multidão.
Nessa noite quando eu estava de saída ele segurou meu braço
e perguntou meu nome. Eu disse meu nome a ele enquanto
minha amiga me puxava pelo braço para irmos embora.

Não demorou muito ele ligou para o meu trabalho.
Conversei com ele em tom de brincadeira, combinamos
um encontro para a noite seguinte.

Eu não fui.

Passaram algumas semanas, ele ligou novamente, inventei
uma desculpa qualquer e marcamos um novo encontro,
não fui. Não fui a mais dois encontros combinados.
No quarto convite aceitei.
Aceitei e vivi intensamente o que foi o maior amor da
minha vida.

Terminei várias vezes, não podia contá-lo que na
verdade eu o estava investigando. Quando ele dormia
no meu apartamento revistava a carteira, anotava todos
os números de telefone, da agenda e telefonemas recebidos,
cartões de visita, tudo que pudesse nos ajudar a incriminá-lo.
Fazia perguntas quando ele já estava embriagado.
Instalei escuta no carro.

Mas tudo que eu fazia perdia o sentido quando ele em troca
só me dava coisas boas.

Uma noite estava na minha cama dormindo quando abri
os olhos vi que ele estava a não sei quanto tempo na
penumbra do quarto olhando para mim enquanto eu dormia.
Apenas me olhava.

Nas manhãs frias de inverno eu acordava e encontrava bilhetes
de bom dia com um sol desenhado na letra “O”.
No meio da noite ele batia baixinho
na porta, quando eu abria, ele tirava as mãos das costas e
me entregava uma boneca com roupas cor de rosa,
um ramo de flores, um vinho.

Esperávamos todos irem embora do restaurante, que depois
descobri que era dele, uma luz suave iluminava o ambiente
e dançávamos juntos, fazíamos amor sobre as mesas ou
no sofá que havia no escritório dele.

Senti pela primeira vez o que é o amor

Mas eu não estava feliz, precisava terminar com aquele
trabalho o mais rápido possível, estava loucamente apaixonada.
Com ele descobri o amor carnal, o desejo, o afeto, o que é
humildade, aprendi a ver nele um homem com um coração
bondoso e muito, muito sensível.

Estava correndo risco de ser descoberta na noite em que
meu chefe ligou e ele estava na minha cama comigo.
Eu não conseguia mais mentir para ele, me conhecia bem.
Disse que era meu tio. Ele não gostou muito da resposta.
Mas logo esquecíamos tudo e vivíamos um mundo só nosso
onde tudo era perfeito, queríamos viver cada momento
como se fosse o último, no fundo nós dois sabíamos que
poderia acabar a qualquer momento.


Alguém bate a porta com urgência, já é madrugada, saio
da cama e vou atender apressada. Ele está coberto e sangue,
ferido nas costas com um tiro a queima roupa.
Fiquei alucinada, como podem ter feito aquilo sem terem
me avisado. Não me falaram que pretendiam matá-lo, falaram
que ele iria preso, que apenas buscavam provas!
Eles já tinham o que precisavam.

Quando ele já estava dentro da ambulância eu me aproximei
e disse que iria com meu carro para o hospital.

Ele me fez chegar bem perto do rosto dele e disse:
-Perdoa-me? Perdoa-me?

Respondo que sim confusa, não entendo nada.Logo o
medicamento fez efeito, ele adormece. Fico vendo a
ambulância se afastando sabendo que nunca mais o verei.


Volto para o apartamento, apago todas as lembranças dele.
Faço a mala apenas com o essencial e vou para o aeroporto,
preciso mudar de país.

Estava no aeroporto quando meu chefe ligou, disse que a
morte da minha família pode não ter sido um simples acidente.
Que ligou para o hospital e ele ainda estava na sala de cirurgia.
O detetive que atirou nele não entendeu a ordem de apenas
prendê-lo, como ele tentou fugir foi baleado.
Passaram uma informação errada de que meu irmão era o espião.

Aprendi a não confiar em ninguém.
Meu chefe falou isso para que eu tenha coragem de ir embora.

Eu sei que quando ele me conheceu numa outra cidade, com outro
nome, jamais desconfiou que a espiã que ele procurava era eu.


Chorei durante toda a viagem.

Vinte anos se passaram e ele vive até hoje
nos meus sonhos e na minha memória.

29 de mai. de 2010

A MENINA DA VITRINE


















A princípio não notei a menina na vitrine, mas aos
poucos fui percebendo que sempre no mesmo horário,
ao cair da tarde, lá pelas cinco ela para em frente á
loja e observa as pessoas aqui dentro.

De aparência simples, olhar tímido e insistente,
uma pasta branca do colégio e mais nada.
Fiquei imaginando o que desperta a atenção dela,
certamente algum produto da vitrine que ela deseja
ter. Aparenta ter uns 15 anos, a idade dos sonhos
de toda menina, do mundo a descobrir, das coisas
novas do mundo feminino que ela poderá usar,
do vestido ou do salto alto que experimenta sozinha
em seu quarto, em seu mundo. O desejo de se
transformar logo em mulher e ser como alguém
que admira a mãe, uma irmã, uma amiga, uma atriz.

Não, ela não é como ás outras pessoas que param
para observar a vitrine, ela não olha para as lingeries
sedutoras e coloridas que enfeitiçam todas as mulheres,
nem para as jóias, os vestidos brilhantes, o tênis da moda,
ela olha para dentro da loja, sempre na mesma direção,
por um momento achei que ela estava olhando para mim.
Mas me chamaram e quando voltei, ela já não estava mais.

Numa tarde em que ela voltou a olhar a vitrine meu amigo
Luiz também notou a presença da menina e comentou comigo:

-Essa menina vem todos os dias aqui vocês notaram?
Fica parada ali olhando pra cá.

-Você a conhece de algum lugar? Pergunto.

-Não. Ela deve estar vendo algum produto que gosta.

-Ela parece querer mais que isso, é estranho, ela fica
parada olhando em nossa direção, mas não sorri, não
entra na loja, parece querer dizer algo.

Falo mais para mim mesma do que para Luiz.

Não consigo tirar aquele rosto triste do meu
pensamento, minha intuição me diz que não
é normal ver aquela menina todos os dias as
cinco com aquele olhar perdido. Já pensei em
ir até lá, conversar com ela, perguntar seu nome,
se ela procura alguém, se precisa de ajuda, se
me conhece de algum lugar. O jeito como ela me
olha me faz sentir que talvez a conheça de
algum lugar, mas de onde?

Os meses foram passando e numa tarde muito
fria de inverno, a chuva fina cobrindo a cidade e
os carros invadindo as ruas, as pessoas em frente
á loja com seus capotes pretos e ombros encolhidos
procuram refúgio apressadas.

Isso me leva a pensar que adoro a chuva ao
contrário da maioria das pessoas, vejo uma
beleza melancólica na chuva que cai, na loja
o som baixinho de um piano me faz sentir
saudade de um amor que nunca vivi, sonho
com um grande amor futuro, desses dos
clássicos de cinema como Casablanca,
Romeu e Julieta, personagens de livros
que guardo na memória.

De repente ouço o som abafado de uma batida
de carro, estilhaços de vidro pelo chão, gritos
de socorro e depois o indesejável grito do silêncio.

É assim que conheço a morte, chega silenciosa
ou faz uma tempestade deixando depois tudo vazio,
oco e uma solidão infinita, a certeza de que por mais
que busquemos ter alguém ao nosso lado no final
sempre seremos sós.

Em frente á loja as pessoas se aglomeram ao lado
dos carros que colidiram, algumas mulheres tapam
seus rostos com as mãos horrorizadas.

No chão ao lado de um dos carros uma pasta branca
de colégio e o corpo já sem vida da menina.
Olho para a pasta entreaberta e vejo um envelope
de carta com desenhos de borboleta e corações e
quase sem acreditar meu vejo meu nome escrito
em letras miudinhas.
Aproximo-me da pasta e pego sem que ninguém
veja o envelope, algo me faz acreditar que a menina
queria me dizer alguma coisa.

Os bombeiros chegam e a levam dali, as pessoas
nas ruas não se mexem ainda em choque.
Falam baixinho entre si consternadas.

Corro para dentro da loja, meus colegas na porta
da loja comentam o que aconteceu.
Vou para uma sala no segundo andar e fecho a porta.

No som da loja ainda ouve-se o piano de
Erik Satie triste e belo.

Na sala numa mesinha perto da janela o envelope
ainda molhado parece ter sido escrito há algum tempo.
Abro o envelope e noto a data em que foi escrito,
em Janeiro, oito meses se passaram desde que foi escrito.
Em letrinhas miúdas, as palavras foram formando
uma confissão que eu não esperava.

A carta é para mim, uma declaração de amor, falava
dos dias em que a loja fechava e ela não podia me ver,
do medo, a dúvida do que estava sentindo,
a incerteza e depois a confirmação.

Viu-me a primeira vez quando eu estava voltando para
a loja, eu havia saído para ir ao banco do outro lado da rua.
Toda molhada, os cabelos escorriam pelo rosto e tremia
de frio, mesmo assim a cumprimentei quando passei, sorri.
Ela estava voltando da escola e depois daquele dia parava
ali e apenas me olhava, mas foi crescendo um sentimento
de admiração que ela não sabia identificar.
Dizia para si mesma que estava errada, que não entendia
o que sentia, não era possível, mas a cada dia foi sentido
algo mais forte.
Conta que apenas algumas vezes eu notara sua presença
outras vezes nem sequer percebi as lágrimas em seus
olhos procurando os meus.
Precisava falar comigo, mas não teve coragem.
Escreveu e guardou a carta na pasta em meio aos
cadernos esperando um dia ter coragem de entregá-la.

Fechei o envelope com todo cuidado.
E pensei como eu ainda preciso aprender sobre o amor,
sobre os sentimentos e como pude despertar um
sofrimento assim naquela menina.

Que segredos têm o amor que nos faz sofrer quando 
ele chega e sofrermos mais ainda quando ele não vem?

A tarde cai, a chuva fina continua pintando de cinza
e de melancolia tudo ao meu redor.

No relógio da catedral o sino bate cinco horas.

VÊNUS

27 de mai. de 2010

Confissões























Troco palavras
contigo
busco num momento
indescritível
decifrar-te

Sinto em cada
verbo
reflexo de lâmina
segredos
confissões

Nos meus versos
desconexos
indecifráveis
alucinações
tua imagem
de sonho
refletida numa lua qualquer

Louca

Absurda


Vênus

22 de mai. de 2010

CHANNEL Nº. 5























Olho o relógio pela quarta vez e concluo que ele já não vai chegar.
Sinto uma pontinha de decepção e inexplicavelmente um desejo
maior ainda por ele.
Todo meu corpo arde e pede para tocá-lo, sentir ele próximo,
ouvir seu riso solto e sexy, ele sabe me seduzir, ele sabe usar
os movimentos do corpo para atiçar meu instinto de loba,
me vicia e some, me abandona saciada e volta quando menos
espero, eu chamo e ele vem no minuto seguinte, ele chama e
eu saio vestida de gueixa para saciar a fome que sinto por ele,
mas o que mais me excita é que ele sempre me surpreende e eu
adoro isso, não saber o que ele vai fazer no minuto seguinte.
Todos os homens que eu conheci antes dele eram tão óbvios.
Ele não.
Pressinto o sinal vermelho de “fuja enquanto é tempo”, mas
algo nele me prende e me fascina como um imã, como um raio
de sol aquecendo a pele, como vinho bom descendo pela garganta,
deliciosamente viciante. Seco, forte, quente!

Sentimentos contraditórios, eu sozinha na mesa de uma restaurante
esperando por ele, a dúvida da espera, a falsa indiferença porque
ele não veio e o corpo sentindo a umidade ao pensar nele, a pele
nua por baixo do vestido preto, salto alto vermelho e o Chanel nº5
misturado ao cheiro de sexo quando estou sentindo muito
desejo como agora.  Uma poção fatal! Veneno!

Pago a conta e saio como se nada estivesse acontecendo,
um sorriso para o garçom.
Saio do restaurante sentindo olhos curiosos despindo meu
corpo inteiro. E fico imaginado o que os homens vêem através
de um fino tecido de seda, como funciona a mente masculina,
gosto de imaginar o que pensam. Como desenham meu corpo
através do tecido, eles jamais saberiam.
Meu corpo guarda segredos que só meus amantes sabem,
e nem todos tiveram a sensibilidade de descobrir.
Visto o casaco que estava na cadeira e me envolvo numa
echarpe preta que tem o cheiro dele.
Agora sinto saudade do corpo, da voz, das mãos e dos
olhos dele.
Os olhos dele me desnorteiam e me desafiam, ao mesmo
tempo me fazem sentir amada, desejada.
Ele me olha com um olhar de interrogação, não sei se
retribuo, não sei se meus olhos têm a resposta que ele
espera encontrar.

No táxi vez ou outra meus olhos cruzam com os olhos
no motorista pelo retrovisor, deduzo o que ele pensa,
porque eu penso o mesmo, talvez.
Meus olhos percorrem as ruas desertas, a luz fraca
e misteriosa da madrugada e a chuva escorrendo pelo
vidro da janela.
Sinto meu corpo ansiando por um abraço forte.
Apenas um abraço. O abraço dele.

No hotel, abro a porta, acendo a luz do abajur, jogo
a bolsa em cima da cama e vou caminhando em direção
ao banheiro despindo-me ao mesmo tempo o vestido e
a echarpe de seda, o casaco, o sapato vermelho
vão caindo pelo chão até eu ficar completamente nua.
No chuveiro a água morna, o cheiro, o toque na pele
macia e um só pensamento:
- Porque esse homem me excita tanto?
Porque simplesmente não o descarto como faço com
outro qualquer e esqueço que ele existe?

Volto para o quarto, nua, a pele ainda escorrendo gotas
de água e os cabelos ainda molhados.
Apago a luz do abajur e ainda absorta em pensamentos
confusos, uma voz:

-Não acenda a luz.

Meu corpo reage instintivamente. Sei que é ele.
Em minutos sinto as mãos fechando uma venda
em seus olhos e mãos percorrendo meu corpo
suavemente, mas pressionando nos lugares certos,
onde sinto mais prazer, ele conhece meu corpo:
a nuca, as coxas, os seios, as ancas.
As mãos quentes seguram uma pedra de gelo que
desliza pelo meu corpo causando arrepio e uma
vontade incontrolável de ser possuída logo.

Mas algo me excita ainda mais, a voz está longe e
as mãos estão agora no meio das minhas coxas. 
Não quero pensar, já não consigo.
Entrego-me

-Quero você! Ele diz.

Sinto sua voz, sinto seu cheiro mais próximo e
mais, até que seus lábios tocam os meus e sei que
ele chegou, finalmente.
Não sei se a outra pessoa está assistindo a tudo,
ou se foi embora, não sei se é um homem ou uma
mulher, não sei.
Só sei que me perdi em momentos de prazer que
nunca senti antes. Só consigo dizer:

Você demorou tanto!

Amanhece e estou só na cama, um bilhete no travesseiro ao lado:
-Eu volto

Vênus

21 de mai. de 2010

Hello, stranger!














Eu te divirto, mas te canso.
Por que você gosta dela?
Porque ela não precisa de mim.


Mentir é a coisa mais divertida que uma garota pode fazer sem
tirar a roupa… Mas fica melhor se você tirar

Eu sou seu estranho, JUMP!

O que há de tão bom na verdade?
Tente mentir pra variar, é a moeda do mundo.


Porquê você colocou essa roupa?
Porque eu senti que voce vai terminar comigo

Eu não quero mentir.
Eu não posso contar a verdade.
Então acabou.

Você arruinou a minha vida!

Você vai superar.

Diga-me!!!
Não!

Eu trato você como uma prostituta
Às vezes
Por que será?

Onde vc vai?
Não sei, só quero ir embora.
Mas é perigoso lá fora
E por acaso é seguro aqui?
Pode olhar, só não pode tocar…


Eu amo tudo que dói em você

Frases do filme Closer
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20 de mai. de 2010

Solidão





















"Eu quero mesmo é alguém
que faça meu corpo querer companhia
nos momentos em que minha mente
insiste pela solidão."

Caio F. Abreu

A menina que roubava livros





















"O único dom
que me salva é a distração.
 Ela preserva minha sanidade. "

Markus Suzak - A menina que roubava livros

17 de mai. de 2010

VELVET


A transformação começa depois de uma ducha quente, visto meu
roupão vermelho e vou para o quarto, gosto de me vestir e me
preparar para a noite ouvindo música, uma música específica,
sempre a mesma....Portishead-Roads.

Visto cuidadosamente as meias de seda e o body branco, prendo
os cabelos e faço a maquiagem, visto a peruca rosa e o salto 10.

Ninguém consegue entrar na alma de quem está por trás desta
imagem. Apenas um homem até hoje conseguiu decifrar meu
enigma e sabe de todos os meus medos, fantasmas e todas as
minhas mais loucas fantasias.
Visto um casaco 7/8 e saio. Noite de sexta-feira é sempre
muito agitado na “Blue Room” onde trabalho. O locutor
avisa que sou a próxima a fazer a apresentação, a luz
adiquire um tom dourado e aconchegante, toca a minha música.
Por momentos esqueço os olhos sedentos dos homens nas
mesas, almas solitárias buscando afogar as mágoas,
esquecerem as dores e tentar mandar pra longe
a insônia, almas perdidas em sua própria escuridão, vejo
olhos de fogo, olhos de tesão, olhos de fome, olhos de solidão.

Esqueço de tudo o que existe ao meu redor e meu corpo desliza
e se contorce lânguido, sensual e faminto, sensual e solitário.
Aos poucos tiro o casaco e sinto meu corpo já quente se
encher de um desejo louco e como se houvesse ali um amante
invisível faço sexo com ele...ajoelho-me seminua de frente
para os olhos da noite e com as velas que estão ao meu redor
castigo minha pele e derramo o líquido quente nas costas...
nos seios...nas coxas...nessa hora a música se torna mais
vibrante e meus gestos mais rápidos até
sentir o êxtase da música e do liquido quente no meu corpo,
um castigo, um prazer, uma dor...
Ninguém vê, só eu sei que nesse momento choro.

Antes de terminar noto um estranho na platéia.
Ele é diferente,  não deve ser daqui. Logo as luzes se apagam.
Acabou.

A madrugada e as ruas vazias me fazem sentir uma solidão
insana, sinto falta de uns braços em volta do meu corpo,
sinto falta de todos os homens que desprezei, de todos os
amores que evitei viver por medo de sofrer. Dos homens
que eu vi ficarem para trás chorando enquanto eu partia, fria,
sem sentir nada...apenas queria ficar sozinha.
A solidão me chama.

Noite de sábado eu só me apresento no “Blue Room” sempre
para o mesmo homem, um milionário entediado da vida e que
vem ali apenas me olhar. Um tipo estranho e de pouca conversa,
sempre com seu copo de Chivas sem gelo e uma garrafa cheia
ao lado, na mesa. Quando entro no quarto, pronta para o que seria
mais uma noite me deparo com o estranho homem que estava
outro dia no bar.

Ele tem olhos misteriosos e tristes, ele olha não para meu o corpo,
ele invade minha alma, meus pensamentos, ele entra em mim e me
faz abaixar o olhar, ele toca meu corpo sem tocar, ainda sobre o
impacto desse momento a música começa a tocar e danço
lentamente para ele, inesperadamente ele levanta-se e
vem dançar comigo.

Mas não dançamos. Apenas nos abraçamos, forte, forte, como se
fossemos um do outro, como se fosse um reencontro, sinto o calor
morno e excitante sendo transportado aos poucos do corpo dele
para o meu corpo gelado, sinto o cheiro dele e sim, eu já sonhei
com este perfume, e sinto os lábios dele: leves, doces aquecendo
minha boca, um beijo suave e intenso como nunca senti.
Só conheço beijo de predadores, beijo de sexo.
Sinto as mãos d'ele tocar a pele da minha cintura e meu corpo
inteiro estremecendo com um simples gesto como esse.
Não sei quanto tempo durou o abraço, só sei  que estou no chão,
nua, ele me beija inteira, desvenda meu corpo
com as mãos...me toca e me leva ao mundo surreal do
prazer do toque...Ele pouco fala. Suas mãos e seu corpo,
seus olhos dizem tudo.

Amamos-nos como dois amantes separados pelo tempo,
distância ou qualquer outra barreira, com fome, com ternura,
com pressa, com saudade, com paixão.
Foi como se tivesse feito amor à primeira vez na vida.

Ele partiu e foi como se tivesse levado metade de mim, prometeu
voltar, mas nunca mais o vi pessoalmente.
Vejo-o nos meus sonhos, nas minhas fantasias, nos meus delírios
e nos pesadelos. Só queria saber onde ele está, se está bem,
quem é ele. Investiguei durante seis meses, mas nada descobri,
o nome que ele dera era falso e pagou em dinheiro.
Ninguém sabe quem ele é, nem de onde surgiu.

Seis anos se passaram e até hoje ainda espero por ele.....

Estou num café perto da minha casa, vejo o jornal em cima
da mesa e na primeira página uma manchete pequena
do lado esquerdo me chama a atenção.

“Volta hoje para o Brasil depois de seis anos o escritor Nel,
enquanto esteve fora escreveu um livro com lançamento
previsto para Junho com o título de Velvet“
E mais nada.

Ele escreveu um livro com o nome que eu usava há anos
atrás no “Blue Room”até o dia em que ele apareceu por lá.

-Preciso encontrá-lo, mas onde? Ele vai me procurar no BR.

Está tudo fechado, ninguém atende ao telefone. Sento no banco
no outro lado da rua e espero. Enquanto o tempo passa eu
me faço mil perguntas:
-Por que ele não ligou, por que não deu notícias?

Um carro para em frente a Blue Room, vejo que é ele e
meu coração dispara.
Ele bate, ninguém atende...ele leva às mãos a cabeça..e
quando se vira encontra meus olhos nos olhos dele.

Ele atravessa a rua para falar comigo, mas um som
abafado e ensurdecedor me atordoa, o som de
pneus se arrastando no asfalto e o silêncio gritante e infinito....

Ele trazia um livro para mim, mas não pode me entregar.

Ajoelho-me e beijo seus lábios, olho pra ele pela última vez
e vou embora com o livro que ele escreveu para mim....
novamente pelas ruas desertas...agora sem ninguém para
esperar, agora serei eu apenas e minha inseparável
solidão e a última frase que ele me falou antes de partir:

"Don't stop believing"

VÊNUS

16 de mai. de 2010

Faltando um pedaço...........















"E o coração de quem ama
fica faltando um pedaço
Que nem a lua minguando,
que nem o meu nos seus braços"

Djavan

15 de mai. de 2010

Você e a Noite Escura












Às vezes eu me sinto um fantasma
Arrancando flores no jardim
À meia- noite
Penso em você e sigo despedaçando
Pétalas ao vento
Na tempestade
Pétalas vermelhas
Tô com saudade
De você,
de você

E as ondas vêm me cobrir na noite escura
E as ondas vêm me cobrir na noite escura
Às vezes eu não sei se é a noite
Ou se é a vontade de te ter agora
Agora

Eu penso em você e sinto a tempestade
Desabar por dentro e por fora
Eu penso em você
e sinto toda a vontade do mundo
De te ter agora, agora
Você
Agora.......................



(Lobão)

12 de mai. de 2010

Essa noite não....
















O vento sul varre tudo o que há no chão, folhas secas, sacolas plásticas.
As mulheres que param para olhar o corpo não sabem se seguram o
vestido ou os cabelos. Os homens disfarçam, mas querem ver
o corpo nu exposto sem vida.

-Era tão bonita e tão jovem! Ela não saía de casa nunca, raramente
era vista aqui no prédio.Comenta minha vizinha do apartamento ao lado.

Todos do prédio estão nas janelas dos apartamentos para ver meu
corpo imóvel. Pessoas surgem de todos os lados, ouço o barulho da
sirene do carro dos bombeiros.O corpo nu, a pele branca, os
cabelos molhados e nenhuma gota de sangue.
Estava ali deitada no chão frio. Tão só.

-Pq estou aqui no chão? Como está frio! Pq essas pessoas estranhas
olham para mim com olhar de pena e de horror?

Ao mesmo tempo que sentia um vazio vulcânico como se me tivessem
arrancado todas as entranhas, sentia uma paz muito grande, simplesmente
porque já não pensava mais.
Os pensamentos que me torturavam tornaram-se apenas brisa leve.
Já não pesava mais meus olhos e nem meu corpo.
O desejo frustrado e não realizado já não me ardia no corpo frio e vulnerável.

Talvez a premonição de minha mãe tenha se realizado:
-Lia, você nasceu para sofrer!

A minha nudez exposta ali, no centro da cidade, como num palco,
alguns homens se acotovelavam para olhar. Os bombeiros logo que
chegaram cobriram meu corpo com um tecido prateado futurista
e me levaram para uma ambulância barulhenta com cheiro de éter.

Por alguns momentos apaguei.
Quando voltei a “ver” estava no meu quarto, na minha cama, nua.
O corpo esticado na cama.

Quero segurar minhas pernas na cama, parecem pesar 100 kg
cada uma, ao mesmo tempo elas se tornam tão leves, tão leves
que parecem ter vida própria e querem levantar, levando meu
corpo junto. Querem ir até a janela do apartamento no décimo
segundo andar e voar, voar…e sentir o vento gelado da noite
de inverno, perder o peso do corpo e apagar todos os pensamentos ruins.

É uma luta cruel entre minha mente e o meu corpo.

O barulho da ambulância havia cessado, tudo era silêncio agora.
Ouvi o canto de um pássaro, o som do motor de um carro e da
vida seguindo seu curso lá fora.

Uma luz forte faz meus olhos arderem e sinto tontura, vertigem.
E como se eu voltasse de muito longe lentamente..

Acordei! Desta vez foi apenas mais um pesadelo.
Essa noite.............não!

Vênus

10 de mai. de 2010

A TROCA

 






















A voz fria e desconhecida do outro lado da linha, a mente tentado
captar algo familiar, um sotaque, um timbre. Não conseguiu.
O silêncio depois do final da ligação e aquela voz repetindo sem
parar:

-Pedro quer encontrar você hoje em frente a igreja no centro
ás 23:00. Não se atrase, não leve ninguém com você. Ele diz que
você corre perigo. Tome cuidado. Leve o pacote com você.

Ele vai se esgueirando pela madrugada, este é o seu horário
de sair da toca. Bicho noturno e arisco sente-se mais seguro
na ruas escuras, nas calçadas vazias e nos parques assombrados
por outros notívagos como ele.
Está com pressa, deixou a namorada no quarto do porão escuro
e frio, um cortiço minúsculo onde se esconde durante o dia e
onde pessoas normais não o incomodam com seus falsos º
códigos morais.

Estava a caminho de uma missão importante e disso dependia
quem sabe uma vida diferente longe do porão e daquela
cidade negra. O carvão cobria tudo e as minas traiçoeiras
por baixo da terra causavam medo,  era uma cidade prestes
a afundar deixando o ar pesado, quase insuportável.

A pressa, o nervosismo, o telefonema, tudo aquilo já havia
acontecido antes, mas desta vez algo não estava cheirando bem.
Sentia que o problema era sério.
Atravessou a avenida principal já vazia e se dirigiu ao parque
em frente a igreja, ali no meio da noite e das grandes árvores
seria  o local da troca.
Pacote x dinheiro.
Um carro da polícia passa fazendo a ronda no exato momento
em que ele chega ao parque e é encoberto pela sombra
da noite e das árvores.

Alguém se aproxima, mas passa por ele sem falar nada,
apenas olha  e segue em frente. Logo Pedro aparece.

-Rápido, não tenho muito tempo, me meti numa enrascada e
preciso sumir por um bom tempo.

-Mas o que aconteceu cara?

-Uma briga com minha namorada e acabei perdendo cabeça, fiquei
nervoso, ela caiu do oitavo andar, fugi, os irmãos dela estão todos
atrás de mim. Ela morreu cara.

Pedro falava com pressa, dizia coisas sem nexo, parecia duvidar
das próprias palavras.

João entregou o pacote com os documentos falsos e recebeu
o pacote de dinheiro. Pedro se despediu e sumiu na escuridão
da noite com o homem que o acompanhava, um segurança armado.

João subiu a escada lateral que o levaria a torre da igreja,
gostava de ficar lá vendo a cidade na madrugada, os sons,
os silêncios, os solitários , as prostitutas, os travestis,
os garotos atrás de drogas e a polícia sempre rondando,
as corujas, os morcegos.

Naquela noite algo havia mudado na paisagem, olhou para local
onde havia estado  minutos antes com Pedro e o que viu o deixou
gelado. Alguns homens, uns 4 ou 5 procuravam por alguém,
rondavam o parque, olhavam para os lados, logo depois chegou
a polícia conversaram e saíram todos na mesma direção, 
a casa de Pedro.
Sentiu que desta vez a missão poderia lhe sair caro demais.
Poderia ser descoberto e não queria nem pensar em voltar para
a cadeia. Passou dois amargos anos em meio ao mais baixo nível
a que um homem pode descer, sujeira, drogas, doenças,
violência, humilhações e medo.

Esperou algum tempo e seguiu de volta para o seu esconderijo.
-Vamos viajar, vamos para bem longe por um tempo. Até as
coisas esfriarem. Viviane vai comigo. Não precisamos levar nada,
Temos que fugir esta noite ainda.
Pensava enquanto caminhava apressado.

Chegou no alto do terreno viu que as luzes do porão estavam
acesas. Desceu correndo as escadas de chão batido, pulando
de dois em dois degraus, quando chegou ao porão a porta
estava aberta.
Não havia ninguém ali.

Um bilhete pendurado na porta da geladeira.
-Nos diga onde está aquele assassino e nós a devolveremos
sem ferimentos. Aliás ela é muito bonita.

Mil pensamentos, um tormento de ideias e raiva de viver
no submundo e ter levado a mulher que ama para aquele lugar.
Foi para o quarto, pegou uma garrafa de whisky e bebeu,
cheirou, bebeu até perder os sentidos.

Nunca  mais soube de Viviane e nem o paradeiro de Pedro.
Seguiu viajando sozinho. Estava numa praia no norte do país.
Ali ninguém  o conhecia, vivia com seus fantasmas
e só tinha como amigo o mar azul e inquieto.

Na frente da casinha onde vivia havia um trapiche onde
desembarcavam os raros turistas em busca de aventura
já que o lugar era selvagem e sem infraestrutura nenhuma.

De repente algo lhe chamou a atenção, um casal de mãos
dadas desce do barco e segue até um quiosque em frente a praia.

Não tinha nenhuma dúvida eram Pedro e Viviane.

Ele jamais havia desconfiado de nada entre os dois.
Não resistiu a raiva e a busca por respostas foi mais forte,
e saiu atrás deles, mas o quiosque estava vazio.

Olhou para o barco no trapiche  e só viu os cabelos de Viviane
balançando ao vento, levando embora junto com ela todas
as respostas, todos as dúvidas e toda a culpa
que sentia por achar que ela havia morrido.

Ficou na areia, no trapiche, olhando o mar, o vazio…

Vênus

6 de mai. de 2010

Alfândega



















Com um livro e uma pequena mala de mão, ela segue em meio a multidão
com passos apressados, segue o ritmo e nem sabe ao certo para aonde está indo.
Imagina que todos tem o mesmo objetivo passar na alfândega e pegar as malas.

Ela estava ansiosa...estava de volta...mas seu coração ficara em Lisboa.

Envolvida nesses pensamentos ela se viu numa enorme fila de espera para carimbar o passaporte na temida alfândega.

Do seu lado esquerdo uma fila muito maior se formava...um empurra-empurra geral, mulheres com crianças no colo reclamando preferência na fila, idosos, pessoas aflitas sem saber em qual das duas filas deveria ficar, confusão geral.


Mas ela estava tranquila vendo a fila gigante que se formara a sua direita, pensou:
-Tive sorte de chegar antes e entrar na fila menor.

Alguns olhares dos homens na fila a deixaram sem jeito, a inesperada invasão daqueles olhares causou desconforto, não estava num território seguro, não estava armada para se defender de alguma investida sempre previsível e chata que alguns homens fazem...observou um homem loiro de olhos azuis que embarcou com ela em Lisboa e que viajou sempre muito sério, um alemão. Este a seguia atentamente com o olhar, como se entre eles houvesse um segredo, uma cumplicidade profissionalmente disfarçada.
Alguns italianos falantes e sorridentes, espanhóis, uma mulher brasileira logo atrás dela que também se mostrava agitada.

Não tinha para onde se virar que lá estavam olhos a lhe seguir, a lhe desnudar o corpo e o pensamento.

Vestida de preto e salto alto, o decote da blusa era um pouco aberto demais para estar ali num ambiente tão estranho. Segurou o livro junto ao peito e tentou pensar em outras coisas, mas pensava se havia algo errado com ela..ou se a roupa estava inadequada ou se estava bonita, não..bonita depois de 10 horas presa a um assento de avião..não.

Curiosamente a fila gigantesca ao lado estava sendo dizimada numa velocidade incrível, enquanto a fila menor não se mexia.
Tudo isso a incomodava....instintos ligados..algo errado.

- Você é brasileira? perguntou a mulher que estava logo atrás dela.
-Sou.
-Você sabe se é aqui a fila correta? Eu sou brasileira, mas meu marido é italiano e tenho dupla cidadania.

Ela respondeu que sim, que deveria ser ali mesmo.
A mulher agradeceu com um sorriso e voltou a conversar com seu italiano.


Ela ficou com uma pulga atrás da orelha, ora mas que coisa...se o marido que é italiano e estrangeiro está na fila certa....espera aí....

Ela foi até um dos guichês, pediu licença para um senhor que estava sendo atendido e perguntou ao homem da alfândega:

-Senhor, por gentileza, o senhor pode me informar se é aqui a fila para carimbar meu passaporte?. Entregou o passaporte a ele.

Sem demonstrar nenhuma reação, com um gesto robótico e cansado ele devolveu o passaporte a ela e disse:
-Senhora, a fila para brasileiros é aquela ali ao lado!

Ela olhou para o lado atônita....não havia uma só pessoa na outra fila.

Entregou o passaporte a outro “robô” que não a olhou sequer, carimbou o passaporte e ela seguiu para onde estariam as malas. A fila novamente gigante e as malas rodando, coloridas e abandonadas.

Ela observa um dos homens da alfândega armado que a observava, não desviou o olhar, mas sentiu um calafrio.
Nada poderia dar errado agora, faltava pouco.


Na área externa do aeroporto um carro preto a espera, ela sorri.
Entra no carro e beija o alemão de olhos azuis que esteve o tempo todo por perto silenciosamente.

Ela olha para trás e vê uma agitação de guardas e policiais no aeroporto. Ele acelera o carro e os dois desaparecem pelas avenidas da cidade….



Vênus

4 de mai. de 2010



















Deixa
que o meu olhar
desça ao fundo
da tua alma;
que olhando-te,
te conheça
e saiba o que há
sob a calma do teu ser
visto tão suave...


Fernando Pessoa

3 de mai. de 2010















O vazio
só acontece
quando você sabe
o que é amar e ser amado
e não ter esse alguém ao lado...

O caos é viver
sem amar ninguém ,
sem ser amado

Vênus


Foto by Nane
 
Poemas para ti..............sempre....sempre para ti

1 de mai. de 2010



















"Devias estar aqui
rente aos meus lábios
para dividir contigo
esta amargura
dos meus dias
partidos
um a um"

 Eugénio de Andrade