13 de jul. de 2010

Amante profissional





















I

Ainda no aeroporto ele procura uma mesa no café quase vazio. Abre o jornal e como já esperava estava lá a notícia na capa do jornal:
-Suicídio em hotel na capital!

Joga o jornal no lixo e se dirije para o embarque. Logo estará longe.

II


Um dia antes num hotel na rua mais movimentada da cidade o detetive revista o quarto.
De estranho nada além de fita adesiva, nenhum sinal de luta, nada fora do lugar, tudo parece perfeito demais.

O corpo na calçada. Olhando da janela do 9º andar o que se vê é apenas uma massa desfigurada e sem vida formando um contrate absurdo com a linda manhã de Janeiro e do sol banhando cada vez mais quente as ruas.

-Qual o nome do hóspede, telefone?

-Estão aqui.

O gerente do hotel entrega a ficha que havia sido preenchida horas antes pela vítima.

O detetive liga para o número do telefone, mas não existe ninguém com o nome de Paulo Fonseca naquele número e endereço em Santos. Procura então e acha pelo nome um Paulo Fonseca em Belo Horizonte, mas o próprio Paulo atende ao telefone.
No corredor os hóspedes começam a aparecer no corredor em busca do café da manhã, na sua maioria executivos saindo para suas reuniões de negócios.
Não fazem idéia do que aconteceu. Parece tudo normal não fosse a presença de dois policiais na porta do quarto 905.

Lá embaixo o corpo de bombeiros e a polícia já não deixaram vestígio do acidente. Em pouco tempo a rua estará lotada de gente por todo lado.

Um dos policiais que está na porta de guarda diz calmamente ao seu colega:

- Foi assassinato.

O policial mais jovem e ainda tentando se habituar ao que viu ali responde:

- Como pode se ele parecia estar sozinho? Não há sinal de luta é suicídio. Mas deve haver um motivo, um bilhete, algo assim.

-Vai saber?

O policial mais velho, cansado de ver casos estranhos conta os dias para se aposentar e não precisar mais ver coisas desse tipo.

No quarto do hotel o detetive Pedro está intrigado e não se convence que foi suicídio.

- Tem que haver um motivo, um bilhete. Algum vestígio.
Senta-se numa poltrona ao lado da cama e observa atentamente o quarto, em silêncio.
Algo detém seu olhar por um momento, um volume maior no colchão, mas já havia retirado tudo e não havia nada de estranho ali de repente salta da poltrona:
-Uma tesoura, uma faca afiada, por favor?
O gerente sai e logo volta com uma tesoura ainda não entendendo nada. Quando entra no quarto percebe que já não é necessário tesoura nenhuma.

O detetive Pedro encontra no tecido aberto na parte de baixo do colchão um laptop e um celular enrolados em fita adesiva.

Um técnico em informática é chamado. Todos os dados do laptop foram apagados.
Enquanto o técnico trabalha na recuperação dos dados, o detetive Pedro descobre que todos os números de telefone da agenda foram apagados menos um último número discado do celular.

O irmão de Paulo do outro lado da linha parece resignado com a notícia e conta ao policial que o irmão sumia de vez em quando de casa. Há um mês saiu dizendo que iria viajar e não dera notícias até a noite anterior quando ligou dizendo que não estava muito bem e não sabia ainda quando voltaria para casa. Parecia triste, confuso, desiludido com algo que lhe acontecera.

Nos dados recuperados do notebook está o motivo. Muitas fotos de Paulo e um jovem de aproximadamente 1,90m, olhos verdes e corpo definido. Os dois juntos em um cruzeiro. Pareciam muito íntimos.

Num dos textos recuperados Paulo escreve sobre a desilusão que sofreu quando depois de 20 dias maravilhosos no cruzeiro as coisas se complicaram, o jovem começou a sumir por horas. Numa noite Paulo o seguiu e o viu entrando na cabine de uma linda loira. Paulo ficou parado sem saber o que fazer, desnorteado haviam feito mil planos e agora ele sentia-se traído, perdido, sozinho e ainda apaixonado. Sabe que foi usado. Na noite anterior havia feito um depósito de uma grande quantia em dinheiro para o jovem. Voltou para á cabine. Quando o jovem voltou fingiu que nada havia acontecido.
Estavam chegando á cidade onde o navio ficaria atracado por dois dias e lá resolveria o que fazer.
Disse ao jovem que precisava ficar sozinho e que passaria a noite num hotel. O jovem se mostrou contrariado, mas ele sabia que no fundo era tudo falso. Ele aproveitaria a noite livre para passar com a Loira da cabine 25.

Começou a escrever o que seria um bilhete de despedida que ficou pela metade. Talvez tenha começado a chorar e não conseguiu terminar o bilhete. Talvez por medo de perder a coragem do próximo ato. O fato é que ao que tudo indica foi mesmo suicídio.
-Caso encerrado: Suicídio!
Os policiais na porta do quarto se entreolham surpresos pela rapidez com que o detetive resolveu o caso.

O detetive Paulo guardou na pen drive o texto e as fotos e foi embora. Sabe que vai continuar a investigação em segredo.

III

No primeiro vôo para Alemanha naquela noite, poucos passageiros, um homem sentado sozinho numa das últimas poltronas. Uma expressão de alívio.

Pensa nas folhas e mais folhas de texto que escreveu até achar ao mais adequado, o texto não deixaria dúvidas. Fez tudo certo, as fotos, os textos apagados do laptop, cada passo havia sido cuidadosamente estudado.

Por um momento lembra-se do último beijo que pediu a Paulo perto da janela.

Logo depois o corpo caindo.
Saiu apressado pelas escadas de incêndio. Jogou as luvas na lixeira perto de onde deixou o carro estacionado na rua deserta. O vento gelado desalinha seus cabelos negros.

No avião ele observa atentamente. A procura da próxima vítima.


Vênus

2 comentários:

Fernanda disse...

Nane querida!como sempre arrazando!
adoro os detalhes,a forma q vc me envolve no conto! parabens amiga!! sucesso sempre!

Anônimo disse...

Parabéns, adorei, adoro assuntos policiais e como sempre você é D+ nos detalhes, adoro continue assim, você é boa em todos os contos.

beijos

Andréacobrete