6 de set. de 2010

The Big Boss- Velvet




















Dezenas de pessoas reunidas num salão esperando.
Eles chegam. Um deles o mais jovem é extrovertido, alegre, fala mais. O outro, mais sério e de poucas palavras, mais observa do que fala.
De repente o mais observador faz uma pergunta com sotaque paranaense:

-Qual seu manequim? Qual o número de calça que você veste?

Olhei para as meninas ao meu redor, ninguém falou nada, olhei para ele.

-Eu?

-Sim, você de calça rosa.

Corei na hora. Fiquei rosa, carmim. Senti calor, queria ficar invisível. Será que a minha calça justa, rosa, com uma blusinha preta chamou atenção demais? Senão como ele conseguiu me ver no meio da multidão?

-38. Respondi.


Trabalho a noite. É um ambiente elegante, refinado. A maioria dos frequentadores são homens solitários, ou entediados da vida, viciados ou com dinheiro demais na conta bancária.

Meu uniforme é charmoso, camisa branca, calça e colete preto com um lenço no pescoço. Sempre maquiada e perfumada. Meu único pecado é o batom vermelho nos lábios grossos e lingeries provocantes por baixo daquela roupa toda.

Cinta liga com meias 7/8 brancos e sutiã transparente branco. Espartilhos pretos com meias 7/8 pretas. Era um segredinho que me fazia sentir sexy em baixo daquele roupa que só deixava de fora minhas mãos e meu rosto.

Jô o sócio mais jovem da empresa começou a me chamar nos intervalos para conversar. Logo começamos a nos encontrar depois do trabalho, no salão de reuniões beijos secretos e desesperados, recadinhos, carona para casa, olhares, presentinhos. Ninguém desconfiava.

Meu chefe, um homem gordo e arrogante, baixinho e antipático. Logo de início nossos santos não bateram. Ele se insinua para todas as meninas e elas vivem ao redor dele, brincando, conversando, agradando. Eu falo o necessário. O resto do tempo o ignoro.

Isso o deixa furioso. Sinto no olhar dele que ele não engole minha indiferença.

No afã do desejo Jô abre os botões da minha camisa branca e começa a abrir minha calça, me beija, me beija, dobra meu corpo sobre a mesa da sala. Ouvimos um barulho e a porta se abre. Esquecemos de chavear a porta e não deu tempo de me vestir. Os olhos de surpresa e de raiva do chefe "Garcia" estavam vermelhos e ao mesmo tempo não paravam de olhar meu corpo.

Rapidamente Jô foi até ele e falou:

-Não abra o bico com ninguém. Não entre mais aqui sem bater antes. Saia daqui imediatamente.

O chefe "Garcia" saiu furioso. Com certeza vai se vingar de ter sido enxotado, de me ver com o Jô, vai se vingar em mim.

Primeiro ele ficou muito bonzinho até meloso demais, me liberava mais cedo, mudou meu setor, almoçava na mesma mesa que eu para jantar. Mas eu não mudei meu comportamento com ele. Sabia que ninguém muda assim tão rapidamente de casca grossa para um homem gentil e respeitoso. Eu estava esperando o bote.

Três horas da manhã, cansada, louca para tirar o uniforme e ir correndo para casa.
O Jô me levava para casa todos os dias, mas agora estamos mais discretos, o transporte da empresa me leva junto com os outros funcionários.

Estou já sem o uniforme só de lingerie quando ouço a porta bater, naquela hora imagino que é uma das colegas correndo também para se trocar para dar tempo de pegar o transporte.

Abro a porta e dou de cara com o "Garcia". Suando, com o rosto vermelho, camisa aberta até o peito arfante e os olhos estranhos de uma fera faminta.
Ele empurrou a porta da sala de trocar roupas e veio para cima de mim com tudo, tentou me tocar e tirar minha lingerie, com pouca roupa é difícil fugir.
Grito, arranho, mordo aquele corpo branco e enorme até que ouço a voz do sócio da empresa que estava no escritório dele ao lado.

-O que está acontecendo aqui?

Will pegou "Garcia" pelo pescoço, tirou ele de cima de mim, mandou ele ir para casa e que voltasse no outro dia para conversarem. Ele sai mais uma vez escorraçado e furioso de perto de mim. Antes de sair ele olha pra mim e fala:

-Você não tem um caso com o Jô? Pode ter comigo também, qual o problema? Vou contar para todo mundo, vou acabar com você.

Eu fiquei chorando no canto, no chão da salinha só de calcinhas, tentando tapar meus seios com as mãos, tremendo de medo e de frio, raiva, humilhação e impotência.

Will gentilmente me cobriu com seu casaco:

-Vista-se eu espero você aqui fora. Acalme-se.
Eu me vesti e não queria sair da sala, demorei muito até que Will bateu levemente na porta.

-Abra, vamos, você precisa descansar, sair daqui.

Saí da salinha e encontrei Will andando de um lado para o outro, fomos para a sala dele.
Ele avisou ao motorista do transporte que eu iria depois para casa, que ele estava liberado.
Eu não conseguia olhar nos olhos dele, sentia vergonha e não sei mais o quê.
Com a voz grave, tom baixo, calmo ele começou a falar o que eu temia ouvir:

-Olha, você não precisa se preocupar quanto ao seu chefe, ele será demitido amanhã mesmo, mas temos um problema mais sério aqui para resolver.

Quando abrimos a empresa meu sócio e eu combinamos que não haveria envolvimento com nenhuma funcionária. Sou além de empresário, advogado e sei que em muitos casos isso pode virar um processo de assédio sexual. O Jô é uma pessoa boa, não vê maldade em nada, mas é um pouco impulsivo e imaturo. Não sei se você sabe, mas ele tem uma namorada e vai ficar noivo em Maio. Se afaste dele o quanto antes, logo todos saberão, seus colegas podem começar a tratar você mal. Estou falando isso para o seu bem. Você pode contar comigo. Sou seu amigo aqui dentro. Agora vamos, vou levar você para casa.

Aquelas palavras todas me deixaram muito mal. Pior do que eu já estava. Entrei no carro dele, parecia uma nave espacial com tantos botões e luizinhas coloridas, uma voz femina dando os comandos. Só sei que é uma BMW. O carro deslizava silencioso e lentamente pelas avenidas desertas na madrugada. Os sinais piscavam sem parar. Will não falou nada e eu nem consegui imaginar palavra para dizer naquele momento.
Mas me sentia bem ali com ele, a presença segura dele me passava uma calma e segurança que nunca senti antes.
Will parou o carro em frente ao meu prédio. Eu disse obrigada e desci. Ele esperou que eu entrasse no hall para ir embora.

Nas semanas seguintes mudou tudo. "Garcia" foi demitido.
O outro chefe é sério e justo.

Passei a perceber uns olhares diferentes, alguns comentátios pelos cantos, mas não me deixei abater. O mais estranho é que me sentia mais forte. Venci um crápula. Ele levou a pior.

O ambiente de trabalho sofisticado e elegante recebia somente pessoas de alto nível, mas num dos setores notei que um senhor sempre de boné, muito fraquinho e simpático, distribuía balas paras as minhas colegas todos os dias. Hoje estou no setor onde está sua mesa predileta, quase no final do salão, num canto mais reservado.

Atendo-o educadamente. Ele sorri e me oferece uma balinha importada de morango deliciosa.
Eu aceito e agradeço. Ele me chama várias vezes, faz vários pedidos. Quando já estamos quase fechando a casa ele se levanta, chega bem perto de mim e pergunta num sussurro no meu ouvido:

-Você tem pêlos nos seios?

Não respondi nada. Saí de perto dele. Senti meu corpo sendo invandido, senti que enquanto eu trabalho aquele senhor de aparência respeitável me desnuda imaginando como é meu corpo.

Me senti nua.

Quando eu estava chegando na mesa da sala principal onde eu deixo meu material de trabalho para depois subir e trocar de roupas meu colega Luis me entrega um bilhete:

"-Sua boca vermelha, doce veneno." Anônimo.

-Luis quem entregou isto para você?

-Um homem que vem sempre aqui, fica no sala vip. Amanhã mostro ele para você, ele vem todos os dias.

-Obrigada. até amanhã.

Que noite. Que trabalho. Que loucura. Preciso mudar de vida. Sou um objeto, um corpo sendo desnudado e observado a cada movimento. Preciso ir embora daqui, vou procurar um novo emprego. Pensei. Não imaginava o que estava para acontecer.

Nas noites seguintes pedi para mudar de setor, fui para uma parte mais clara do salão perto do buffet onde as senhoras gulosas ficavam para circularem mais facilmente do buffet para as mesas de jogos.

Will me olha, passa por mim e sinto seu perfume me inquietar, inebriar meus sentidos. A lembrança daquela madrugada silenciosa ao lado dele me despertou algo. Talvez o abraço que não recebi e precisava tanto.

Ele me observa de longe, olha nos olhos, está sempre onde estou, passou a participar de eventos dos funcionários que ele nunca particava antes.

Eu atenta a tudo. Só o observo também.

Numa madrugada fria, no final do expediente Will surprende a todos avisando que o jantar no restaurante ao lado da empresa é por conta da casa.

Poucas pessoas puderam participar, já era quatro da manhã. Celinha
minha única amiga na empresa me perguntou:
-Você também está afim dele?
Eu me fiz de desentendida:

-D'ele quem?

-Do Will.

-Capaz!!! Ele nem me vê no meio de tantas mulheres lindas.

-Ele vê sim. Ele está louco por você, todo mundo já notou. Ele é separado, está só. Não tem nada demais você sair com ele.

-Ah! Não! Quero ficar na minha, estou pensando em sair daqui.

Dois amigos nossos chegam ao restaurante. Celinha me convence a sair dali com eles. Quando estou dentro do carro, olho para trás e o vejo seguindo nosso carro com os olhos. Pensei:

-Ele me quer, mas ele deve ter todas as mulheres que deseja, não quero ser mais uma.

Mas eu já estava o desejando também e quando na noite seguinte, no final do expediente ele fez um reunião rápida com os funcionários, reunião inesperada e inédita ás três da manhã eu entendi qual o objetivo dele. Claro que senti uma vaidadezinha me fazer sorrir.

No final da reunião ele pergunta:

-Alguém vai para o centro?

Eu levantei a mão. Só eu.

E assim cruzamos a cidade novamente juntos, novamente pelas ruas desertas, ouvindo música e conversando, parece que eu já estive com ele, que já o conheço há anos. O carro desliza sob uma chuva fina, a mesma chuva que pede um aconhego.

Ele para o carro um pouco mais a frente da entrada do meu prédio.
Olha pra mim, me puxa para os braços dele e me beija pela primeira vez.

Que beijo bom!!!! Como eu desejei este beijo e como negava que desejava!
Tudo nele me envolveu, o beijo, o cheiro, o abraço quente, as mãos suaves e firmes tocando meu corpo.

-Preciso ir.

-Você não precisa ir. Passe o resto da noite comigo. Por favor.

-Eu quero Will, mas não devo.

-Se você quer, vamos. Não deixe de fazer algo que você deseja.

-Você tem razão. Vamos.

Ele ligou o carro, em cinco minutos estávamos no yate dele, âncorado no veleiro perto da minha casa.
Mal conseguimos esperar chegar ao veleiro, meu corpo queimava de desejo do carinho e dos beijos dele.
No yate bebemos wiski cawbói, fiquei um pouco tonta, wisky forte, incorpado.
Nos beijamos na sala, no sofá, ele arrancou toda minha roupa e descobriu minha lingerie sexy, ficou louco!

Fiz amor com ele com tanta paixão, até estranhei, como neguei por tanto tempo o que sentia, por medo de sentir. Quando estava quase amanhecedo fomo para a cama dormir.
O balanço leve do mar, estar ali com ele. Adormeci nos braços dele.

Quando acordei ele estava chegando no quarto do yate com uma bandeija. Nosso café da manhã. Adorei.
Me vesti, ele tbm. O marinheiro dirigiu o yate por toda a beira mar. Deixou-nos no trapiche da beiramar. Lá estava estacionada a BMW. Me levou para casa.
Parecia tudo um sonho. Não queria mais acordar.

O romance continuou por meses e meses. Até que um dia assim que ele me deixou em casa após uma noite maravilhosa decidi que iria sumir da vida dele. Nossos mundos são opostos, ele vive uma vida e eu outra totalmente diferente. Eu levo uma vida simples. Moro com uma amiga e não tenho muitas chances de melhorar rapidamente de vida.

Também sou contra a desigualdade social, muitas coisas que vi enquanto eu estava com ele, na casa dele, no yate dele me fizeram pensar que a maioria das pessoas não imagina como a vida pode ser um sonho bom quando se tem muito dinheiro. Por quê poucos tem tanto, muitos tem pouco, alguns não tem nada.

Mudei no mesmo dia de apartamento, mudei o número do celular e não deixei meu novo endereço com a amiga que divide apartamento comigo.

Eu sei. Fui convarde.

Meses depois encontrei uma amiga, fomos para um café, ela disse que precisava falar comigo.

-Você sabe o que aconteceu com a Rafa?

-Não, depois que saí do apartamento nunca mais falei com ela.

-Ela me procurou, disse que o will andou desesperado atrás de você, que todas as noites, procurava por notícias suas na portaria onde ele havia deixado um recado caso você aparecesse, até que um dia a Rafa vendo que ele estava muito aflito resolveu deixar ele subir e falar com ela. Ela o consolou, ele começou a ir lá mais vezes, acabaram transando uma noite. O que ele não sabia é que ela tinha AIDS.
-Ela morreu no final do mês passado.

-Ele está no hospital, acho que você deveria visitá-lo.
A cada palavra dela eu me surpreendia mais e mais. Da decepção a preocupação, do ciúmes ao entendimento, tudo ao mesmo tempo.

Mandei flores e um cartão:

"Jamais o esquecerei." Velvet
 
 
Vênus

2 comentários:

Anônimo disse...

Nossa q historia...tao quente e mesmo assim, um final surpreendente!!!Velvet e sempre incrivel!!!
Parabens amiga! otimo conto!!!
sucessoooooooooooo!!!

Anônimo disse...

Criaste... Uma bela obra!

OTAVIO JM