25 de ago. de 2012

SÁBADOS

































Lá fora, há um ocaso, obscura jóia
...
engastada no tempo,
e uma recôndita cidade cega
de homens que não te viram.
A tarde cala ou canta.
Alguém descrucifica os ansios
cravados no piano.
Sempre a abundância da tua beleza

* * *

A despeito do teu desamor,
a tua beleza
prolonga o seu milagre pelo tempo.
A felicidade mora em tu
tal como a Primavera numa folha nova.
Não sou quase ninguém,
sou apenas o anseio
que se perde na tarde.
Em ti mora o prazer
tal como a crueldade nas espadas.

* * *

Carregando as persianas vem a noite.
Na sala tão severa, como cegos,
procuram-se uma à outra as nossas solidões,
Sobreviveu à tarde
a brancura gloriosa da tua carne.
No nosso amor há uma pena
parecida com a alma.

* * *

Tu
que ainda ontem eras só toda a beleza
és agora também todo o amor.


*

JORGE LUIS BORGES, in FERVOR DE BUENOS AIRES, 
in OBRAS COMPLETAS I 1923-1949, 
trad. de FERNANDO PINTO DO AMARAL (Teorema, 1998)


23 de ago. de 2012

11 de ago. de 2012
































"Uma felicidade nos dedos
um fluir cálido 
o sol
captado no repouso sobre a mesa


e escrito aqui um sol tão rápido

Nada se separa sob os dedos

ignorantes da divisão do vidro

e o pássaro fica

sem o canto

não o sabem os dedos

Eles deslizam sobre a superfície

na absoluta densidade indesvendável..."



ANTÓNIO RAMOS ROSA, in O INCERTO EXACTO (1982)

 in ANTOLOGIA