21 de jan. de 2012

Soneto de uma quase loucura

E ele não para, nem por um fragmento de segundo, amor, ele não para. O maldito continua a girar, sempre na mesma direção, sempre exalando os mesmo fluidos. Ele, querido, o planeta. Acabou o meu balé. Fim da cota. Fiquei tonta de tanto rodar, fiquei torta de tanto cair. Fecharam as portas do meu balé. Os meus monstros não ficam mais embaixo da cama, não. Todos eles, de todos os tamanhos, me perseguem. E eu entro no labirinto, escondo-me nas vielas escuras, me camuflo por dentre as borboletas. E eles sempre, sempre, sempre me encontram. O meu grito sai abafado, querido, e ninguém, ninguém, ninguém me ouve. 
O meu riso soa a tristeza, exala imperfeição. Hoje eu quis chorar no meu abrigo, morar no teu abraço, ter meu apelos calados por teus beijos. E tudo, e nada. Como atravessar esses dias, amor? Eu desaprendi a mágica de colocar um pé na frente do outro, porque tudo o que eu sabia era dançar. E fecharam as portas do meu balé. O encantador de mentes, com aquela flauta que não para, não para feito o planeta, puxou um fio da minha mente, devagar, minuciosamente, o senhor da cautela arrancou-me um novelo. Já não sei mais pensar. 
Diga-me, querido, você viu minhas sapatilhas penduradas por ai? É insuportável viver presa dentro desse corpo. Desse corpo que não ri, que não grita, que não dança. Diz pra ele parar, sim, amor? Diz para ele parar um pouquinho, um momento, um segundo de girar. Pelo menos até eu achar minhas sapatilhas, pelo menos até que eu aprenda a cantar. Não há equilíbrio, só o erro, o medo dessas promessas do senhor da cautela de vir me salvar. A melodia dele mente tanto, tanto pra mim. Chega, amor, de me quebrar no chão. Hoje eu vou montar no colibri, hoje eu vou voar.

Relicário de mim.

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