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29 de mar. de 2007
Porto
Chove
e todos as
ondas
agitam-se
dentro de mim
Há um porto vazio
a te esperar
ao amanhecer
de cada dia
Espero
ver
o sol brilhar
no teu olhar
25 de mar. de 2007
Sonho de amor
Magnólia
A Flor do Sonho, alvíssima, divina,
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.
Miraculosamente abriu em mim,
Como se uma magnólia de cetim
Fosse florir num muro todo em ruína.
Pende em meu seio a haste branda e fina
E não posso entender como é que, enfim,
Essa tão rara flor abriu assim!...
Milagre... fantasia... ou, talvez, sina...
Ó Flor que em mim nasceste sem abrolhos,
Que tem que sejam tristes os meus olhos
Se eles são tristes pelo amor de ti?!...
Desde que em mim nasceste em noite calma,
Voou ao longe a asa de minh'alma
E nunca, nunca mais eu me entendi...
Florbela Espanca, in Sonetos
22 de mar. de 2007
19 de mar. de 2007
Quarto de veludo
17 de mar. de 2007
Beijo do vento
15 de mar. de 2007
In D'Alfange
Aqui cantaste nua.
Aqui bebeste a planicie, a lua,
e ao vento deste os olhos a beber.
Aqui abandonaste as mãos
a tudo o que não chega a acontecer.
Aqui vieram bailar as estações
e com elas tu bailaste.
Aqui mordeste os seios por abrir,
fechaste o corpo à sede das searas
e no lume de ti própria te queimaste.
"Na varanda de Florbela"
Eugénio de Andrade
14 de mar. de 2007
A Máquina Lírica 2
Nem sempre me incendeia
o acordar das ervas e a estrela
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado
despenhada de sua órbita viva.
- Porém, tu sempre me incendeias.
Esqueço o arbusto impregnado
de silêncio diurno,
a noite imagem pungente
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem
com seu deus esmagado e ascendido.
- Porém, não te esquecem
meus corações de sal e de brandura.
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz
Entontece meu hálito com a sombra,
tua boca penetra a minha voz
como a espada se perde no arco.
E quando gela a mãe em sua distãncia amarga,
E quando gela a mãe em sua distãncia amarga,
a lua estiola, a paisagem regressa ao ventre,
tempo se desfibra - invento para ti a música,
a loucura, e o mar.
Toco o peso da tua vida: a carne que fulge,
Toco o peso da tua vida: a carne que fulge,
o sorriso, a inspiração.
E eu sei que cercaste os pensamentos
E eu sei que cercaste os pensamentos
com mesa e harpa.
Vou para ti com a beleza partida,
os ombros violados,
o sangue penetrado de paredes nuas.
Digo: eu sou a beleza,
seu rosto e seu durar.
Teus olhos se transfiguram,
tuas mãos descobrem
sombra da minha face.
sombra da minha face.
Agarro tua cabeça áspera e luminosa,
e digo: ouves, meu amor?
eu sou aquilo que se espera para as coisas,
para o tempo
Inteira, tua vida o deseja.
Para mim se erguem teus olhos de longe.
Tu própria me duras
em minha velada beleza.
A Máquina Lírica
Poesia Toda
Herberto Helder
A Máquina Lírica
10 de mar. de 2007
É tempo de me veres
Sacode as nuvens que te poisam nos cabelos,
Sacode as aves que te levam o olhar.
Sacode os sonhos mais pesados do que as pedras.
Porque eu cheguei e é tempo de me veres,
Mesmo que os meus gestos te trespassem
De solidão e tu caias em poeira,
Mesmo que a minha voz queime o ar que respiras
E os teus olhos nunca mais possam olhar.
Sophia de Mello Breyner Andresen
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