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"Não é o coração
mas esta carne
em seu rumor.
Não é o coração
mas teu silêncio
de intenso furor.
Não é o coração
mas as mãos
sem corpo, vazias.
Na grave melodia
de um instante
tu e eu
em desiquilíbrio
na infame
consistência
de um absoluto
obstáculo."
Ana Marques Gastão
(in Nocturnos)
"Despe-me
ou deixa
que eu me dispa
e depois veste-me
pouco a pouco
de carícias"
Luís Ene
A palavra é uma estátua submersa,
um leopardo que estremece em escuros bosques,
uma anémona sobre uma cabeleira.
Por vezes é uma estrela
que projecta a sua sombra sobre um torso.
Ei-la sem destino no clamor da noite,
cega e nua, mas vibrante de desejo
como uma magnólia molhada.
Rápida é a boca que apenas aflora
os raios de uma outra luz.
Toco-lhe os subtis tornozelos,
os cabelos ardentes
e vejo uma água límpida
numa concha marinha.
É sempre um corpo amante e fugidio
que canta num mar musical
o sangue das vogais. (António Ramos Rosa)
"Encostei-me a ti,
sabendo bem que eras somente onda.
Sabendo bem que eras nuvem,
depus a minha vida em ti.
Como sabia bem tudo isso,
e dei-me ao teu destino frágil,
fiquei sem poder chorar,
quando caí."
(Cecília Meirelles)