18 de dez. de 2006

A carícia perdida


Sai-me dos dedos
a carícia sem causa,
Sai-me dos dedos...
No vento, ao passar,
A carícia que vaga
sem destino nem fim,
A carícia perdida,
quem a recolherá?

Posso amar esta noite
com piedade infinita,
Posso amar ao primeiro
que conseguir chegar.
Ninguém chega.
Estão sós os floridos caminhos.
A carícia perdida,
andará... andará...

Se nos olhos te beijarem
esta noite,
Se estremece os ramos
um doce suspirar,
Se te aperta os dedos
uma mão pequena
Que te toma e te deixa,
que te engana e se vai.
Se não vês essa mão,
nem essa boca que beija,
Se é o ar quem tece
a ilusão de beijar,
Ah, que tens como o céu os olhos,
No vento fundida, me reconhecerás?

Alfonsina Storni

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